Economia
Crescimento (falta de) - erro na conta?
Em um
IMF Working Paper publicado em dezembro de 2006, Irineu de Carvalho Filho e Marcos Chamon sugerem que a estagnação da renda per capita no Brasil após as reformas liberais da década de 90 é um mito, motivado por vieses no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) utilizado como deflator da renda.
Esses vieses no IPC teriam as seguintes explicações:
- Novos bens costumam ser introduzidos na cesta utilizada para cálculo do IPC com grande defasagem, de modo que, quando os preços desses bens começam a ser acompanhados pelo instituto que calcula o índice, eles já se reduziram bastante, em relação ao nível em que se achavam quando o produto começou a ser comercializado. No caso específico, isso teria acontecido principalmente com os bens que passaram a ser importados após a abertura comercial.
- O efeito substituição de mudanças de preços relativos, isto é, o fato de que os consumidores aumentam suas compras de bens cujo preço relativo se reduz e vice-versa, é ignorado no cômputo do IPC.
- Melhoras na qualidade e durabilidade dos bens também não são levadas em conta naquele cálculo.
Outra fonte de erro seria a desconsideração do impacto sobre a renda das famílias mais pobres da grande redução do imposto inflacionário trazida pelo fim da hiperinflação.
Fazendo uso da Lei de Engel e de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE, os autores estimam o crescimento da renda real sugerido pela redução observada, ao longo do tempo, da parcela do gasto com alimentação no orçamento das famílias. A diferença entre esta estimativa e a medida convencional do crescimento da renda é tomada como o viés do Índice de Preços ao Consumidor.
Este viés teria sido da ordem de 3% ao ano, entre 1987 /88 e 2002 /03, o que significa que, se num dado ano a variação do IPC foi estimada em 10%, o aumento "verdadeiro" do índice teria sido de apenas 6,7%.
Mais ainda, o viés teria sido maior para as camadas de renda mais baixa, implicando que o método convencional subestima a renda real dos pobres mais do que a renda dos ricos.
Eliminado o viés do IPC, os autores concluem que:
- a renda per capita domiciliar cresceu a uma taxa de 4,5% ao ano, nas áreas metropolitanas, entre 1987/88 e 2002/03, em lugar de apenas 1,5% ao ano, conforme sugerido pelo cálculo convencional.
- a distribuição de renda melhorou significativamente neste período, com o coeficiente de Gini se reduzindo de 0,533, em1987/88, para 0,414, em 1995/96, e 0,398, em 2002/03, resultados que também diferem bastante daqueles obtidos a partir da medida convencional (0,533, 0,550 e 0,542, respectivamente).
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