Ciência sem Fronteiras.
Economia

Ciência sem Fronteiras.



Especialmente para quem gosta de estudar, leia abaixo o editorial do ESTADÃO de hoje sobre "Ciência sem Fronteiras". 

Lançado há seis meses com o objetivo de acelerar a internacionalização do ensino superior no País e regulamentado por decreto assinado esta semana pela presidente Dilma Rousseff, o programa Ciência sem Fronteiras anunciou a primeira chamada pública para a concessão de 12,5 mil bolsas a estudantes que queiram fazer graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado e cursos de formação de tecnólogos no exterior. As bolsas de graduação poderão ser pleiteadas por quem obtiver mais de 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a definição dos critérios de seleção, das áreas a serem financiadas e do valor das bolsas ficará a cargo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

As primeiras bolsas se destinam, basicamente, a estudos nos EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Itália e as áreas escolhidas - matemática, física, química e biologia - estão entre aquelas em que o Brasil é carente. Previstas para o início de 2012, as próximas chamadas públicas privilegiarão as engenharias e as ciências aplicadas, como nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia mineral, geociências, tecnologia aeroespacial, fármacos, energias renováveis, petróleo, gás e carvão mineral. Essas áreas são consideradas estratégicas pelo governo para a qualificação da mão de obra e o desenvolvimento. Serão concedidas bolsas para escolas na China, Japão, Coreia do Sul e Bélgica.

O governo pretende oferecer 101 mil bolsas de estudo em quatro anos. Mas a União só financiará 75 mil. Para custear as 26 mil bolsas restantes, no valor de R$ 1,3 bilhão, o governo está pedindo ajuda a empresas estatais, empresas privadas e instituições financeiras. Nos últimos meses, enquanto os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia negociavam convênios com grandes instituições de ensino e pesquisa estrangeiras, a presidente Dilma Rousseff e a chefe da Casa Civil, ministra Gleisi Hoffmann, instavam empresários e dirigentes de entidades de classe a custear as bolsas.

Além da Petrobrás, Eletrobrás, Vale, British Petroleum, AmBev, Portugal Telecom/Oi e Tim, foram procuradas a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que prometeu financiar 6,5 mil bolsas; a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que bancará 6 mil bolsas; e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que custeará outras 5 mil. Também foram procuradas multinacionais que têm interesse em vender seus produtos no País ou que participam de concorrência para a venda de equipamentos e serviços ao governo. É o caso da sueca Saab e da americana Boeing, que têm interesse em vender caças para a Força Aérea Brasileira. Por meio do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro, a Saab se comprometeu a conceder cem bolsas para estudantes e pesquisadores das áreas de defesa e segurança em universidades suecas. A Boeing concederá bolsas para 18 estudantes de engenharia geoespacial e aeronáutica em escolas americanas.

Com o avanço da globalização econômica, a internacionalização do ensino superior e a ampliação de programas de intercâmbio em ciência e tecnologia se tornaram decisivas para que os países possam aumentar o esforço de inovação científica e assegurar maior competitividade às suas empresas. Ao proporcionar vivência acadêmica e profissional no exterior, dando aos jovens oportunidade de superar a barreira da língua e aprimorar seus conhecimentos em escolas de alto nível, esses programas tornarão as novas gerações mais cosmopolitas e ajudarão a reduzir a distância entre as universidades brasileiras e as instituições de ensino mais bem classificadas nos rankings internacionais.

O Ciência sem Fronteiras tem tudo para dar certo. Mas, para que não seja desvirtuado, é preciso que a seleção dos bolsistas privilegie os candidatos mais bem preparados, sem concessões a políticas de cotas sociais e étnicas, e que o pedido de apoio financeiro a empresas e entidades de classe não se converta em forma de pressão do governo sobre a iniciativa privada.



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