Câmbio e poupança revisitados
Economia

Câmbio e poupança revisitados


Recebi o comentário do Ed e achei interessante ampliar a discussão.

* * *
Alex,

Ver abaixo passagem da coluna do Delfim na Folha de hoje, explicando a fenomenal taxa de poupança da China. Sou simpático ao argumento e gostaria de saber sua opinião. Desculpe colocar isto no post do Giambiagi, que não tem nada com o assunto, mas na correria não achei lugar mais apropriado para postar.

"...2/3 do financiamento dos novos investimentos nas empresas é feito com recursos internos (aumento da taxa de lucro), ou seja, com a "poupança" acumulada depois que a produção encontrou sua realização (demanda!). Em lugar de continuar crendo em lorotas bem construídas por uma ideologia hegemônica -que como outras no passado- pretende-se "ciência", quem tiver interesse no assunto não deve deixar de ler o artigo "Rebalancing China's Growth", de Bert Hofman e Loius Kuijs, publicado no excelente volume "Debating China's Exchange Rate Policy" (2008). Vai entender as causas das variações e do crescimento da invejável "poupança" da China, a quem se atribui o seu crescimento virtuoso. Verificará que ela é, basicamente, resultado da espantosa taxa de lucro da própria indústria e não da filosofia de Confúcio... "

Eu um regime de controle de capitais eu acho que o argumento do Delfim é válido. Não é mais o caso do Brasil (mas é o da China). No nosso caso, com razoável mobilidade de capital, o negócio é flutuar o cambio e manter o controle sobre a política monetária (e não vice-versa, como demonstrado pela nossa própria experiencia pré e pós flutuação cambial). O problema do nosso regime atual é esta altíssima Selic de equilíbrio; e vc continua nos devendo aquele artigo explicando as razões! Eu já sei a resposta (crédito direcionado, política fiscal excessivamente expancionista etc) baseado nos posts do seu blog mas o assunto merece um artido mais organizado.

Grande abraço,
Ed
PS. Tem um outro blogueiro assinando como ED, maísculo, mas não sou eu!


Ed:

Vamos fazer as contas. Supondo que os números sejam corretos, 2/3 dos investimentos das empresas (e supondo que o investimento das empresas seja o total de FBCF - já relaxo esta hipótese) significa que a poupança via lucro responde por 2*(FBCF/PIB)/3 = 2*(30%)/3 = 20% do PIB. Sobraria metade da poupança (40% do PIB) que não se originaria de lucros acumulados.

Se o investimento corporativo for metade da FBCF (plausível, dado que boa parte é investimento em infra-estrutura, além de habitação), esta fonte de poupança explicaria algo como 10% do PIB, i.e., 1/4 da poupança nacional. É só um exemplo, mas fica fácil ver a sensibilidade do resultado às hipóteses acerca do peso do investimento corporativo. No caso mais favorável ao argumento metade da poupança agregada teria outras fontes.

Fora isto, para que o aumento da demanda se traduza em aumento dos lucros, é preciso que a produção possa aumentar, ou seja, que haja capacidade ociosa. Sem isto, não há como a produção crescer e o lucro só aumentaria pela redução do salário real (inflação, até que as expectativas passassem a incorporar a inflação futura).

O Delfim sabe economia, mas, em primeiro lugar, sabe exatamente a que conclusão quer chegar.

Abs

Alex

P.S. Ainda faço o artigo da Selic, mas preciso de evidências mais sólidas para suportar a hipótese.



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