Ricardo Lacerda
A estrutura relativamente pouco diversificada da economia do Baixo São Francisco limita as oportunidades de ocupação de sua população economicamente ativa. A região possui um mercado de trabalho frágil, especialmente em alguns municípios em que predominam precárias relações de trabalho e em que uma parcela importante da população se encontra ocupada em atividades de produtividade muito baixa.
Estrutura Setorial
A estrutura setorial da ocupação do território do Baixo São Francisco, na sua distribuição em grandes setores -Agricultura, Indústria e Serviços, não se distingue muito da maioria dos demais territórios sergipanos.
A participação do setor agropecuário na ocupação do Baixo São Francisco, de 36% em 2010, era inferior a do Alto Sertão, em que este segmento ultrapassa 50% da população ocupada, e era bem superior às da Grande Aracaju e do Leste Sergipano, mas tinha valor próximo aos pesos que apresenta nos demais territórios.
A participação da atividade industrial na ocupação era um pouco inferior às da maioria dos territórios, ainda que superior às participações do Alto Sertão e do Médio Sertão. E o setor de serviços tinha um peso similar ao existente na maioria dos territórios. Ainda que bem inferior a da Grande Aracaju e do Leste Sergipano, era significativamente superior à participação deste setor no Alto Sertão (Ver Tabela 1).
Pesca e setor público
Em termos do conjunto do território, duas peculiaridades se destacavam no Baixo São Francisco, comparativamente às demais regiões: o peso das pessoas ocupadas nas atividades de pesca e aquicultura, que era de 7,6%, com 3.286 pessoas que tinham nessas duas atividades a principal ocupação em 2010, quando em nenhum outro território tal participação chegava a atingir 3%. No território, a pesca e a aquicultura têm grande importância na estrutura ocupacional, mais do que nos demais territórios, ainda que na Grande Aracaju o contingente de pessoas ocupadas nessas atividades em 2010 fosse maior do no Baixo São Francisco e que nos territórios do Leste e do Sul as participações também se apresentassem expressivas (2,7% e 2,6%, respectivamente).
Outra discrepância significativa diz respeito ao peso da administração pública na ocupação do território, de 11,5% em 2010, somente inferior ao peso que esta atividade apresentava no Leste Sergipano e muito superior aos 7,3% da média de Sergipe. Caso sejam somadas a participação da administração pública às participações da educação e saúde, em que os maiores contingentes estão vinculados ao setor público, notadamente nos municípios de menor porte, o percentual no Baixo São Francisco atinge 19,1%, superior, embora um pouco menos discrepante, em relação à média estadual de 16,7%. E nesse caso, a participação do agregado administração pública, saúde e educação era inferior ao peso que apresentavam na Grande Aracaju e no Leste Sergipano, mas bem superior às participações dessas atividades nos demais territórios.
Tabela 1: Estrutura ocupacional nos territórios sergipanos, segundo setores de atividade. 2010. (%)
Locais | Agropecuária | Indústria | Serviços | Total |
Total Agrope- cuária | Pesca e Aquicul- Tura | Total Industria | Total Serviços | Comércio | Adm pública, Educação e Saúde | Outros Serviços |
Total Sergipe | 23 | 1,6 | 17 | 60 | 16,0 | 16,7 | 27,9 | 100 |
Agreste Central | 36 | 0,2 | 16 | 48 | 15,7 | 11,5 | 20,3 | 100 |
Alto Sertão | 53 | 1,1 | 10 | 37 | 10,4 | 12,9 | 14,0 | 100 |
Baixo São Francisco | 36 | 7,6 | 15 | 49 | 12,8 | 19,1 | 17,4 | 100 |
Centro Sul | 39 | 0,1 | 18 | 43 | 15,1 | 11,0 | 17,3 | 100 |
Grande Aracaju | 4 | 1,4 | 18 | 78 | 19,0 | 20,6 | 38,6 | 100 |
Leste Sergipano | 25 | 2,6 | 19 | 56 | 9,1 | 19,8 | 26,9 | 100 |
Médio Sertão | 41 | 0,4 | 11 | 48 | 14,8 | 15,2 | 18,0 | 100 |
Sul de Sergipe | 39 | 2,7 | 15 | 46 | 12,8 | 12,8 | 20,5 | 100 |
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010.
Ocupação municipal
Em relação a ocupação no âmbito dos municípios do Baixo São Francisco, as variações nas participações setoriais são bem mais amplas. Nos municípios mais pobres e mais carentes, como Pacatuba, Brejo Grande, Canhoba, Japoatã e Ilha das Flores, o peso das atividades agropecuárias na ocupação é muito mais acentuado, ultrapassando a 60% nos dois primeiros.
No caso de Brejo Grande, uma em cada duas pessoas ocupadas tinha como principal atividade a pesca ou a aquicultura. Em Ilha das Flores, quase uma em cada cinco pessoas retiravam seu sustento dessas atividades e em Pacatuba se constatava uma participação também muito expressiva, respondendo por 14,8% das ocupações.
Os municípios do Baixo São Francisco menos dependentes de ocupações agrícolas eram, por ordem, Propriá, Cedro, Malhada dos Bois, Telha e Amparo do São Francisco, todos com menos de 30% das pessoas ocupadas nessas atividades. São muncípios que contam com participações mais expressivas nas ocupações das atividades da indústria e do comércio, como Propriá e Cedro, e de forte presença da ocupação na administração pública, saúde e educação, como Malhado dos Bois, Telha e Amparo, ou em uma combinação dos dois fatores.
Os municípios mais dependentes de ocupações agrícolas, em relações de trabalho precárias, são em geral os mais pobres da região e que devem merecer atenção para fortalecer as suas bases econômicas e sociais.
Tabela 2: Estrutura ocupacional nos municípios do Baixo São Francisco, segundo setores de atividade. 2010. (%)
Locais | AGROPECUÁRIA | INDÚSTRIA | SERVIÇOS | TOTAL |
Total agrope-cuária | Pesca e aquicul-tura | Total Indústria | Total Serviços | Comércio | Adm Pub, educação e saúde* | Outros serviços |
BAIXO SÃO FRANCISCO | 36,0 | 7,6 | 15,3 | 48,7 | 12,8 | 19,1 | 16,9 | 100 |
Amparo de São Francisco | 29,6 | 9,0 | 14,7 | 55,6 | 14,2 | 28,3 | 13,1 | 100 |
Brejo Grande | 61,6 | 48,0 | 4,7 | 33,6 | 4,9 | 16,2 | 12,5 | 100 |
Canhoba | 57,7 | 2,6 | 14,2 | 28,2 | 4,1 | 14,7 | 9,4 | 100 |
Cedro de São João | 19,9 | 2,2 | 19,5 | 60,6 | 19,7 | 20,8 | 20,1 | 100 |
Ilha das Flores | 44,7 | 23,3 | 7,7 | 47,6 | 11,9 | 19,3 | 16,4 | 100 |
Japoatã | 48,1 | - | 13,6 | 38,3 | 10,1 | 13,6 | 14,6 | 100 |
Malhada dos Bois | 27,1 | - | 15,5 | 57,6 | 8,7 | 31,5 | 17,4 | 100 |
Muribeca | 33,7 | - | 20,4 | 45,9 | 9,8 | 23,8 | 12,3 | 100 |
Neópolis | 36,1 | 4,4 | 16,4 | 47,6 | 12,8 | 18,9 | 15,9 | 100 |
Pacatuba | 63,4 | 14,8 | 9,8 | 26,7 | 4,4 | 14,9 | 7,5 | 100 |
Propriá | 13,0 | 1,3 | 16,7 | 70,3 | 23,1 | 20,1 | 27,1 | 100 |
Santana do São Francisco | 37,0 | 9,3 | 26,1 | 36,9 | 7,9 | 17,5 | 11,6 | 100 |
São Francisco | 35,7 | 1,0 | 19,0 | 45,4 | 8,3 | 21,4 | 15,7 | 100 |
Telha | 27,2 | 2,5 | 17,5 | 55,3 | 6,5 | 31,9 | 16,9 | 100 |
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010. Obs.
Publicado no Jornal da Cidade, em 15/03/2015
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