A ineficiência do pleno emprego
Economia

A ineficiência do pleno emprego


Em uma dada ocasião, certo professor da minha faculdade afirmou que o pleno emprego – que equivale ao equilíbrio entre oferta e demanda por mão-de-obra no mercado, e não a desemprego zero – acarretava ineficiência. Qual é o raciocínio que está por detrás dessa colocação? Para explicá-la, vou fazer uso do modelo novo-keynesiano de non-shirking (algo como “sem corpo mole”, no português).

Observe o seguinte gráfico:

A curva de non-shirking condition (NSC) expressa quantos trabalhadores podem ser contratados sem que os mesmos façam corpo mole. Temos que Ld é a demanda por mão-de-obra, Lm é o nível de pleno emprego e w é o salário. Analisando essa relação entre o nível de salário e o de emprego, é possível chegar a conclusões bastante interessantes:

1) Como os salários estão diretamente relacionados com a produtividade dos trabalhadores (lembre-se que as firmas maximizam seu lucro quando igualam salários a produtividade marginal do trabalho, ou seja, PMgL = w), as empresas pagam um salário w* para que os mesmos não façam corpo mole, ou seja, um salário maior do que o nível competitivo de pleno emprego.

2) Se o nível de emprego da indústria é baixo, o salário que as empresas precisam pagar não é muito elevado, tendo em vista que é custoso para o trabalhador conseguir um outro emprego.

3) Quanto mais próximo do nível de pleno emprego, mais a curva de NSC se torna inelástica. Entender isso é simples: quanto mais próximo do pleno emprego, maior é a facilidade de encontrar um outro emprego no mercado. Dessa forma, o incentivo dado pelas firmas (na forma de salários) deve ser cada vez maior.

4) A diferença entre Lm e L* representa o desemprego involuntário, já que haveriam trabalhadores dispostos a trabalhar recebendo um salário wc. Essa seria a quantidade de trabalhadores que faria corpo mole se fosse pago o salário competitivo wc.

Nesse caso que está sendo analisado, temos um problema de risco moral: a empresa é incapaz de monitorar as atividades dos seus empregados sem incorrer em algum custo. Por isso, a firma aumenta os salários num patamar acima do equilíbrio competitivo, pois assim os empregados terão incentivos para trabalhar duro.

O que acontece se houver um aumento na probabilidade do empregado ser pego fazendo corpo mole? Isso deslocaria a curva de NSC para baixo, acarretando numa diminuição do salário w*. O mesmo efeito aconteceria se houvesse uma queda na demanda por mão-de-obra. Já se houvesse um aumento do seguro desemprego, a curva de NSC se deslocaria para cima: os benefícios dessa assistência tornariam o desemprego menos custoso para os trabalhadores, e seu incentivo para fazer corpo mole aumentaria.

Para maiores informações, consulte o modelo de Shapiro e Stiglitz (1984).




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