A economia agrícola de Sergipe nos anos oitenta
Economia

A economia agrícola de Sergipe nos anos oitenta




                                                                                                                   Ricardo Lacerda

A economia agrícola de Sergipe iniciou a década de oitenta sofrendo os efeitos de uma estiagem agressiva. Estimativa da SUDENE indicou redução de 14% do PIB agropecuário na comparação entre a média do triênio 1981-1983 com a média de 1978-1980. O ano de queda mais acentuada foi 1983, quando o PIB agropecuário teria recuado em quase 2/3 em relação ao ano anterior.  

Os anos oitenta marcaram um novo tipo de intervenção voltada para atenuar os impactos desestruturadores das secas, com a implantação de perímetros irrigados em vários estados da região, no âmbito do Programa Nacional de Irrigação do Nordeste – PROINE.

Datam dessa década as inaugurações no semiárido de perímetros irrigados de responsabilidade do governo do estado: Califórnia, Jacarecica I, Jabiberi e Ribeira, que se somaram aos perímetros irrigados do governo federal, situados no baixo São Francisco, que entraram em funcionamento entre os anos setenta (Betume e Propriá) e oitenta (Cotinguiba/Pindoba). Esses projetos ainda que tivessem se mostrado importantes para as populações beneficiárias não apresentaram impacto de maior monta quando se considera o conjunto da produção agrícola estadual.

Nas terras mais férteis do litoral e do centro-sul, as culturas permanentes da laranja e do coco apresentaram crescimento expressivo. Ao longo da década, a citricultura vai se consolidar como a principal atividade agrícola do estado. A atividade canavieira, por sua vez, vai conhecer um período de grande prosperidade impulsionada pela expansão do consumo de etanol pela indústria automobilística, em sequencia ao crescimento que se iniciara em meados da década anterior.

Principais culturas

A não realização dos censos econômicos previstos para 1990 dificulta o exame da evolução das principais culturas na década de 1980. Esses censos, que tinham edições quinquenais foram interrompidos, em 1985. A partir da década de noventa passaram a ter edições decenais com levantamentos efetuados no meio das décadas. Em 1990, o IBGE iniciou a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) que, junto com a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), efetua levantamentos anuais da produção agropecuária. 

As duas principais culturas permanentes de Sergipe apresentaram crescimento considerável entre 1980 e 1990. O cultivo de coco da baia que utilizava 8.866 hectares, em 1980, saltou para 27.082 hectares, em 1985, e 46.939, em 1990 (ver Tabela), caracterizando a década como a de maior expansão dessa cultura.

O cultivo da laranja continuou se expandindo a passos largos no sul do estado. Em 1990, já se constituía na principal atividade agrícola de Sergipe. Enquanto em 1980, o valor da produção da laranja representava o equivalente a 31% do valor da produção da cana-de-açúcar, ao final da década já o superava em 21%.  Em 1990, Sergipe aparecia no cenário nacional como o segundo maior produtor de laranja, ainda que o estado líder, São Paulo, concentrasse 83% do total.

Com a instalação de duas unidades de processamento de laranja no município de Estância, o suco concentrado congelado de laranja (FCOJ) se tornou o principal produto de exportação do estado, alcançando em 1990 vinte mil toneladas e representando 90% do valor exportado por Sergipe naquele ano.

No semiárido, as pastagens para a pecuária ocupavam, como hoje, a maior parcela das terras.  Em termos de cultivos agrícolas, ao final da década de oitenta, o feijão, o milho e mandioca dividiam em parcelas quase iguais o uso da terra. E no Baixo São Francisco o cultivo do arroz tinha uma presença marcante.

Tabela: Áreas colhidas das principais culturas agrícolas de Sergipe. 1980, 1985 e 1990 (hectares)
Item
1980
1985
1990
Principais culturas permanentes



Coco da baia
8.866
27.082
46.939
Laranja
16.126
25.866
34.374
Principais culturas temporárias



Arroz
5.145
7.914
5.798
Cana-de-açúcar
21.134
26.855
38.104
Feijão
16.134
47.968
36.897
Mandioca
20.846
25.703
34.177
Milho em grãos
6.275
80.361
29.798
Fonte: IBGE. Censos agropecuários de 1980 e 1985 e Pesquisa Agrícola Municipal de 1990.


A terminar a década de oitenta, o PIB agropecuário estadual havia aumentado 49%, comparando-se a média do triênio 1979-1981 com o triênio 1989-1991, equivalente a um ritmo de crescimento médio anual de 4%. Segundo a estimativa do IBGE, a agropecuária respondia por 10,7% do Valor Adicionado Bruto em 1990. Pela estimativa da SUDENE, representava 15,8% do PIB a custo de fatores.

Os anos oitenta foram importantes para agropecuária sergipana por marcarem a consolidação do polo citrícola, pela continuidade do ciclo de expansão da atividade canavieira e pela implantação dos perímetros irrigados.


Publicado no Jornal da Cidade em 14/07/2013





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