A controvérsia Reinaldo vs JMPM
Economia

A controvérsia Reinaldo vs JMPM


Como quase todos vocês devem ter ouvido falar, um post de Reinaldo Azevedo criticando um estudo de economistas da PUC-Rio sobre o efeito do Bolsa Família sobre a criminalidade na cidade de São Paulo tem dado o que falar na blogosfera.

Se você não leu ainda, tem tempo a perder, e estômago sadio, aqui está o primeiro post de Reinaldo Azevedo em que ele encontra petistas embaixo de sua cama, na gaveta do faqueiro e dentro da maquina de lavar roupas; aqui a réplica de João Manuel Pinho de Mello, que provou que realmente trabalha duro em sua pesquisa e atividades docentes, pois ficou blatantemente óbvio que ele nunca bateu boca na internet (ou bar ou seminário...); e a resposta de Reinaldo, anunciando que está trabalhando em sua tréplica.

Resumindo, o Reinaldo Azevedo ficou indignado que o estudo dos professores da PUC-Rio atribui parte da redução da criminalidade em São Paulo à expansão do Bolsa Família para adolescentes de 16 e 17 anos, ocorrida em 2008. Sua indignação, em minha opinião, reflete um pouco de sua paranóia anti-petista, afinal o resultado do artigo atribui apenas uns 20% da redução da criminalidade aos efeitos do Bolsa Família, sobrando uma parcela leonina para outras variáveis como as políticas públicas do governo paulista.

Assim, Reinaldo pergunta:
"Por que, então, a campanha do desarmamento não produziu os mesmos efeitos no resto do Brasil? Por que, então, houve, na média, aumento da violência no Norte e Nordeste, embora sejam as regiões mais beneficiadas pelo Bolsa Família?"
JMPM responde:
"Consideremos o Nordeste, o contraexemplo preferido. É possível, na realidade provável, que o crime tivesse aumentado ainda mais no Nordeste na ausência do Bolsa Família, mas não temos como saber. Em linguagem científica isso se chama contrafactual. (...) Mutatis mutandis, o aumento da criminalidade no Nordeste ao mesmo tempo em que o Bolsa Família lá se expandiu não demonstra que o Bolsa Família não ajudou a diminuir o crime."
Aqui eu vou divergir do bom Pedro, que nos comentários desse blog argumentou que Reinaldo deveria ser reprovado com zero em qualquer curso de introdução às ciências sociais. O ponto que o Reinaldo levantou é relevante e deve ser considerado. Se o efeito do Bolsa Família na criminalidade é causal e generalizável (eu não estou convencido que seja um ou outro, e explico logo porque), então este programa teria contribuído para reduzir a criminalidade no Nordeste significativamente. Como sabemos que a criminalidade no Nordeste não caiu, então a divergência na criminalidade entre o Nordeste e São Paulo teria sido ainda maior do que observada – e isso reduz a plausibilidade das estimativas, pois aumenta ainda mais o puzzle do aumento da criminalidade no Nordeste. Na melhor das hipóteses, o fato que a criminalidade aumentou no resto do país sugere que o resultado não seja generalizável.

Quanto ao artigo, eu não estou convencido ainda. Vários resultados já publicados mostram que o BF tem efeitos bem modestos sobre variáveis como a oferta de trabalho. Também é pouco plausível que um benefício tão pequeno tenha efeito economicamente significativo, ainda mais em São Paulo. Os autores têm dados de 2006 a 2009. Por que não fazer um teste de placebo, estimando o efeito da expansão do BF ocorrida em 2008 na criminalidade em 2007? Eu sugeriria que os autores estimassem uma forma reduzida com dados de 2006-07 e testassem se a interação entre o número de estudantes entre 16 e 17 anos e a dummy para 2007 é significativa. Se o teste de placebo encontrar algum efeito da expansão do BF na criminalidade em 2007, é porque a estratégia empírica está mal especificada. Mas se a especificação passar pelo teste de placebo, dou meu braço a torcer (ainda que mantendo minhas dúvidas sobre a generalidade do resultado, vide comportamento da criminalidade no resto do Brasil).




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