Economia
A actividade produtiva e a formação dos rendimentos
- Hoje, os gestores ganham mais de mil vezes os salários dos seus trabalhadores. No passado, este rácio era de cerca de um para dez. Estes gestores não têm o mesmo grau de responsabilidade em relação à empresa e aos seus empregados que tinham os antigos empresários.
A pobreza entre nós, Cáritas
A desigualdade pode medir-se pelo
rácio S80/S20, relação entre a proporção do rendimento total recebido pelos 20% mais ricos e o auferido pelos 20% mais pobres:
A desigualdade é particularmente acentuada na generalidade dos países subdesenvolvidos. Entre os seus parceiros europeus,
Portugal é um dos países onde a distribuição de rendimentos é mais desigual. Fonte: EUROSTAT.
Esta disparidade na distribuição do rendimento contribui para o
reduzido dinamismo do
mercado interno, que constitui um dos factores que dificulta o desenvolvimento da
actividade produtiva, porque a generalidade das empresas de média dimensão serão forçadas a contar com o mercado externo para obterem custos unitários razoáveis.
Quando os empresários tomam a decisão de desencadear o
processo produtivo, certamente esperarão que o valor das vendas da produção (
outputs) seja superior ao custo dos consumos intermédios (bens que a empresa adquiriu a outras empresas, ou
inputs). Da diferença entre estes, o valor dos
outputs menos o valor dos
inputs resulta no
valor acrescentado por cada empresa, que é utilizado na remuneração dos factores produtivos (trabalho e capital). Como veremos com maior detalhe no estudo da Contabilidade Nacional, a soma dos valores acrescentados pelas empresas que se situam num território, corresponde ao respectivo
Produto e
Rendimento. O valor acrescentado constitui a base da
riqueza criada, com a qual serão
remunerados os factores intervenientes no processo produtivo (salários para o trabalho; rendas, juros e lucros para o capital, a estudar no ponto seguinte).
A quantificação da situação económica dos indivíduos mede-se frequentemente através do
rendimento e da
riqueza. O rendimento, constituindo um fluxo, é mais fácil de medir e encontra-se mais estreitamente relacionado com a estrutura da economia.
A riqueza das famílias, que corresponde a um
stock, um valor estático, resultante da acumulação de sucessivas
poupanças. Inclui
rubricas corpóreas (casas, automóveis e outros bens de consumo duradouros, e terrenos) e
activos financeiros (dinheiro, depósitos, acções e obrigações). As rubricas que têm valor positivo são designadas
activos, enquanto as que correspondem a dívidas são designadas
passivos. A diferença entre o total dos activos e o total dos passivos corresponde à
riqueza ou capital próprio. Quando a riqueza é mobilizada para o processo produtivo, com o objectivo de a reproduzir designa-se
capital.
A maior parte do rendimento nacional cabe ao trabalho, através de salários, ordenados e vencimentos ou outros rendimentos complementares (vg. subsídios para a refeição ou para transportes). Evidentemente que
a mesma pessoa pode auferir rendimentos de vários factores de produção. Por exemplo, pode receber um salário, juros de depósitos em bancos, dividendos de acções de um fundo mobiliário e rendas de um investimento imobiliário. Recorrendo à terminologia da unidade anterior (Preços e mercados) diremos que
rendimento de mercado de uma pessoa é igual às quantidades de factores de produção vendidas por essa pessoa vezes o salário ou preço do factor.
O conceito de
rendimento está intimamente associado à
actividade produtiva, visto que corresponde ao dinheiro recebido como remuneração dos factores produtivos (trabalho e capital) detidos pelas pessoas. Mas o dinheiro disponível para utilização não se reduz ao rendimento, porque os indivíduos pagam e recebem quantias devido a
outras actividades que nada têm a ver com a produção: pagam impostos, contribuições para a segurança social, multas diversas, etc., e recebem subsídios (abono de família, reforma, etc.). A estes movimentos pecuniários desligados da produção chamamos
transferências, cabendo-lhes um papel importante na correcção da
repartição primária dos rendimentos (ou seja, dos rendimentos dos factores produtivos) que será estudada brevemente, explicitando em que consiste a redistribuição dos rendimentos.
A repartição dos rendimentos
pode ser injusta por muitos motivos: (1) em primeiro lugar muitos indivíduos
apenas usufruem de rendimentos do trabalho, enquanto outros dispõem de variadas fontes de rendimento, porque a riqueza se encontra desigualmente repartida; (2) depois, verificam-se também grandes
disparidades salariais em função das
qualificações, dos anos de
experiência, e de outras variáveis, como os
diferenciais de compensação e a
segmentação de mercados em grupos não concorrentes.
1. Partindo deste texto da Cáritas,
refere dois factores que estejam a contribuir para o agravamento da desigualdade económica.
2. Partindo da definição do rácio S80/S20
explica qual seria o seu valor numa sociedade igualitária.
3. Observando o rácio S80/S20 nos países da União Europeia,
relaciona a equidade na repartição do rendimento com desenvolvimento.
4.
Distingue rendimento de riqueza.
5.
Distingue riqueza de capital.
6.
Distingue rendimento de transferência.
7.
Relaciona valor acrescentado com rendimento.
8.
Explica como necessariamente, do desenvolvimento do processo produtivo/actividade produtiva resulta a repartição primária dos rendimentos.
9. Além das disparidades salariais,
refere outro factor que contribui para uma repartição do rendimento injusta.
10.
Explica as disparidades salariais em resultado dos seguintes factores:
a) Qualificações profissionais;
b) Anos de experiência;
c) Diferencial de compensação;
d) Segmentação de mercados em grupos não concorrentes.
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