Para sintetizar a data, transcrevo abaixo o editorial de hoje da FOLHA DE S.PAULO: A PROMESSA OBAMA:
A posse de Barack Obama como 44º presidente dos Estados Unidos constitui evento histórico cuja magnitude não se pode atenuar. Não só um político negro alcança o posto de governante mais poderoso do mundo, fato inédito a atestar a vitalidade daquela democracia, como o faz envolto em uma aura de otimismo que contrasta, frontalmente, com o panorama à sua volta.
No plano doméstico, como no internacional, grassa uma das maiores crises da economia moderna. Na política externa, às guerras inacabadas do Afeganistão e do Iraque se soma agora a chaga reaberta do conflito israelo-palestino. A China, potência em ascensão, se tornou a terceira maior economia mundial, ultrapassando a Alemanha. Não faltam desafios para Obama.
A esperança, noção vaga o bastante para servir de base ao discurso de propaganda eleitoral, inexoravelmente se converte em expectativas determinadas, com grande potencial para gerar frustração. Em nenhuma outra esfera essa ameaça é mais aguda do que na economia americana.
Desde a eleição do candidato democrata, a situação só fez deteriorar-se: taxa de desemprego a 7,2%, a pior em 16 anos, queda de 0,5% do PIB no quarto trimestre, vendas no varejo despencando 9,6% em dezembro, contra o mesmo mês de 2007.
Mesmo os poucos grandes bancos de varejo que pareciam resistir à debacle deslanchada em setembro começam a vacilar. O Bank of America, maior instituição daquele país, precisou ser socorrido com US$ 117,2 bilhões, entre injeção de capital e garantia de perdas. O terceiro no ranking, Citigroup, anunciou a própria partição em duas unidades, para garantir a sobrevivência.
Espectros similares rondam portentosos empregadores, como a General Motors. O presidente eleito, contudo, prometeu criar 3 milhões a 4 milhões de vagas. Ficaria com o prestígio devastado se principiasse sua administração com a quebra de um desses gigantes e a avalanche de desemprego que desataria.
Se dependesse só do novo presidente, ele assinaria as medidas do programa econômico já no dia de hoje. Mas Obama não conseguiu arrastar o Congresso, apesar da maioria democrata, na onda da expectativa popular. A aprovação das medidas pode demorar um mês ainda.
Espera-se também que Obama anuncie de pronto o cumprimento de outra promessa eleitoral, o fechamento da base em Guantánamo. O símbolo da perversão das liberdades e garantias individuais que a nação norte-americana tanto fez para consagrar como condição do Estado de Direito, porém, pode perdurar meses. Antes de esvaziar suas celas, há que encontrar solução e destino para centenas de prisioneiros até agora mantidos no limbo jurídico da base.
A atmosfera de confiança e esperança que cerca Obama em sua posse lhe garantirá um período de graça incomum. O porte e a multiplicidade dos desafios que o aguardam, entretanto, acumulam potencial para erodi-las com velocidade.