Economia


Verissimo num dia, jornalista da FOLHA no outro: nada como um dia após o outro

Após o lamentável (mesmo) artigo do Verissimo, cuja crítica faço aqui, ontem recebi um outro, da Folha de São Paulo.

Colocando os pintos [ops, ha ha ha..."pingos", eu quero dizer "pingos"...] nos "i's ", eu não curto a FSP. Já fui assinante e parei. Hoje em dia, não assino mais jornal algum (o salário tá curto).

Sei que não posso reproduzir totalmente a matéria, mas a jornalista, a sra. W.N. Galvão, vem-me com argumentos cheio de problemas e uma boa dose de agressão desnecessária. Às vezes parece adepta daquela linha de pensamento que acha que toda linguagem é poder. Estou sendo exagerado? Pior que não. Veja alguns trechos com meus comentários:

Quando se sabe que o presidente norte-americano acaba de apresentar à nação um orçamento que omite a despesa com a guerra do Afeganistão, assim evitando que acusasse déficit, logo se vê que, em questão de governantes e dos economistas que trazem pela coleira (ou vice-versa), tudo é possível.

Meu comentário: A jornalista quer me fazer crer que o COPOM do Banco Central tem motivações similiares a George Bush. O mais correto seria analisar o orçamento do governo federal. A revista Primeira Leitura, por exemplo, mostra que o Fome Zero quase não tem dotação orçamentária. Será que a jornalista gostaria de escrever sobre isto? Taí uma comparação bem mais razoável...exagero na comparação. Boa técnica de retórica, mas deveras exagerada.

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central [que inicia hoje nova reunião], faz o leitor cair de costas. São páginas e páginas de impenetrável economês, visando a que o leitor não perceba que a inflação aumentou e deve continuar aumentando: conclusão que se encontra embutida na própria ata.

Meu comentário: Creio que a tarefa do jornalista econômico é justamente traduzir o economês. Fim de papo.

Os malabarismos de linguagem são admiráveis e começam logo, quando o leitor, no primeiro parágrafo, desconfia que deve haver alguma diferença entre "significativamente inferior" e "expressivamente inferior". Lê de novo, vai conferir, e há. No primeiro caso, o resultado mostra-se favorável quando comparado às estimativas dos analistas. Quando não se trata de vagas estimativas de vagos analistas, e a comparação se faz com parâmetro firme, emitido por uma fonte oficial, e o resultado é negativo, é o segundo caso.

Meu comentário: Ok. Ela tem um ponto se disser que está se queixando porque o relatório não explicitou relativamente a que algo é inferior ou superior. Inferior a que? Provavelmente a alguma meta. Mas, vamos em frente.

E depois há o IPCA, ou Índice de Preços ao Consumidor Amplo: quem é amplo? O índice? O consumidor? Ou ambos?.

Nota: Não vou nem comentar. Aqui a jornalista, que está bem nervosa com o relatório do BC, mostra que não está pronta para o comentário de assuntos econômicos. Quem é amplo, o consumidor, o índice? Alguém quer ganhar 1 ponto respondendo esta questão? Fácil, não? Ironia agressiva, sem nenhuma informação útil ao leitor.

Para calcular o IPCA, saiba o desavisado leitor que vigoram diferentes preços, os quais exercem pressões sobre os índices, constituindo "contribuições individuais" de três tipos: preços livres, preços monitorados ou administrados (que podem ou não ser a mesma coisa) e oligopolizados.

Meu comentário: Agora sim, a jornalista voltou à sua sã consciência. Não explicou nada, contudo. Parece-me óbvio que o leitor saiba que a economia tem setores oligopolizados e não-oligopolizados. O que seria legal? Seria ela dizer ao leitor o porquê do governo usar o IPCA. Mas aí ela não poderia criticar o governo (e olha que eu não gosto deste governo)...

Quanto a médias, o leitor pensa que a média de "dois mais quatro" é igual a três, como aprendeu na escola primária. Era: não é mais. Depende. Pois há "médias aparadas" e médias submetidas a "procedimento de suavização". O que será isso, meu Deus? Ou seja, se as médias reagem mal quando aparadas (o que já deve doer), serão amarradas esperneando e obrigadas a sabe-se lá o quê? Ignomínias, tormentos? Serão drogadas? Aplicam-lhes o soro da verdade? Passam pelo detector de mentiras? Ou apenas levam um cascudo?

Meu comentário: Novamente a jornalista agride sem precisar (embora tente ser engraçadinha...). Se ela perguntar a um (bom) economista qualquer, o sujeito lhe explicará o que é "suavizar uma série".

Vou ajudá-la e ao meu leitor: imagine uma série de vendas (nominais, sem deflacionar, para facilitar a vida de quem já não sabe se o IPC é amplo, ou o consumidor...he he he) de uma loja, mensal. Tome-se 10 (dez) anos (quem fez a escola primária sabe que temos 10x12=___ observações).

Temos, nesta série, possivelmente, picos em dezembro. Bem, tente prever vendas de janeiro levando em conta este pico. Você encontrará um valor irreal. Por que? Ora, porque, além do consumidor não ser amplo, sua renda nem sempre o é e, afinal, o Natal só acontece em dezembro.

A suavização consiste justamente em ajustar isto. Tira-se da série os ciclos de 12 meses (sazonais) para se melhorar a previsão. Neste pequeno espaço, é um bom resumo. Dúvidas? Aulas por um preço razoável comigo...(he he he)

Continuemos.

Das três, uma. Ou bem eles não sabem do que estão falando. Ou bem não querem que o leitor saiba que eles não sabem do que estão falando. Ou bem sabem do que estão falando, mas não querem que o leitor saiba. Donde a tergiversação sem fim, intimidando o leitor com um labirinto de cifras e siglas, para decretar que só a onipotência dos economistas -esses titãs- se interpõe entre nós e o caos"..

Meu comentário: Ok, ela tem razão de reclamar do linguajar do relatório. Ela provavelmente não entendeu muito. Mas isto não quer dizer que se quer intimidar o leitor. Se o público-alvo é o mercado financeiro, então a jornalista está precisando se debruçar em livros de Econometria, quer queira, quer não queira (ou quer queira, mas queira que a gente não sabe que ela queira, ou algo assim).

Eu compartilho da sua preocupação com o linguajar técnico. Aliás, a idéia deste blog é justamente desfazer esta mística. Mas partir para acusações sobre o uso da linguagem é algo diferente. É dizer que se usa o economês para esconder a verdade. Se fosse assim, bastava o MEC proibir o ensino de economia - exceto para os membros do partido do governo - no país. Eis um ponto que a jornalista não considera.

Afinal, pense o leitor no contrário: quantas vezes eu pude achar que jornalistas tentavam dominar o mundo e esconder a verdade quando me falavam de "semiótica", "hegemonia cultural" ou "enfoque reeveriano".....menos né?!



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