Economia


Sindicatos brasileiros sao concentradores de renda.

Nada como combinar teoria, metodos quantitativos e historia. Cada um deles, isoladamente, nem sempre e' suficiente para chegar a alguma conclusao. A combinacao dos tres, porem, produz resultados surpeendentes, como sintetiza o artigo abaixo.

Longe do foco
Miriam Leitão

Os sindicatos concentram a renda, as leis trabalhistas não começaram com Getúlio e não protegem o trabalhador. A Justiça do Trabalho foi criada para enfraquecer o forte movimento sindical dos anos 20. Essas afirmações, que diferem em tudo do que sempre é dito sobre o tema no Brasil, foram feitas por três pessoas que entrevistei esta semana. A conversa com eles mostra que a CLT hoje mais atrapalha do que ajuda o trabalhador. A cientista política Maria Celina D’Araújo, da UFF e da FGV, diz que a historiografia do Estado Novo é que trabalhou para construir o mito de Getúlio como “figura inauguradora” de todo o processo de modernização do Brasil.

— A lei Eloi Chaves, de 23, e o Conselho Nacional do Trabalho, de 26, que depois virou Ministério do Trabalho, já tratavam da proteção ao trabalhador. O governo mudou porque a sociedade estava mudando. A legislação trabalhista veio, na verdade, para destruir toda uma tradição sindical forte que foi substituída pelo corporativismo. Era para evitar a luta de classes. Essa era a utopia totalitária — conta Maria Celina.

O economista José Márcio Camargo, da Tendências, acrescenta que a CLT veio para controlar o forte movimento anarquista que, trazido pelos imigrantes italianos e espanhóis, estava provocando conflitos nas fábricas. A elite, portanto, apoiou a legislação que controlava o movimento trabalhista e punha, como disse Jorge Arbach, professor da UnB, os sindicatos como braço do Estado.

Arbach fez um estudo que revela que — ao contrário do que acontece no resto do mundo —, no Brasil, os sindicatos concentram a renda.

— Nos outros países, os sindicatos, para sobreviver, têm que representar o trabalhador típico. No Brasil, por causa da unicidade e do imposto sindical, os sindicatos acabam por representar o trabalhador mais qualificado. E os estudos mostram este fato peculiar, único no mundo, de que o movimento dos sindicatos acaba produzindo um aumento da desigualdade salarial — explica ele.

Maria Celina afirma que não se está falando apenas de distorções nas representações de trabalhadores, mas nas de patrões também:

— Esta estrutura sindical de 39 forma o associativismo dos empresários, toda uma malha associativa passa a ser montada a partir da estrutura pensada para regular capital e trabalho. Assim, eles nunca se enfrentam. E são ambos financiados pelo imposto sindical ou pelo imposto do Sistema S.

José Márcio acha que o ponto fundamental é que a legislação acaba se transformando em um enorme incentivo à informalidade, enfraquecendo os sindicatos:

— Quem está na informalidade pode se apropriar do dinheiro que seria pago em impostos. Para que alguém vai pagar 10% do que ganha para o Estado durante 30 anos? Até porque essa pessoa, ao chegar aos 65 anos, terá direito a receber do Estado um salário-mínimo.

O economista lembra também que toda a negociação entre capital e trabalho é transformada em uma questão de Justiça e isso reduz o espaço de negociação que deveria ocorrer durante o período em que o trabalhador está no emprego. Hoje, quando um trabalhador é demitido é que ele vai à Justiça. E lá a primeira coisa que o Juiz faz é propor que o trabalhador abra mão de parte do que ele teria direito.

— Se ele não concordar, o juiz fecha a pasta e passa a estudar os autos. A sentença sairá daí a cinco anos. O trabalhador mais rico pode esperar, o mais pobre acaba tendo que aceitar na hora. Isso também faz com que a negociação deixe de existir no momento certo, quando o trabalhador está empregado, e passa a ocorrer depois da demissão, na Justiça do Trabalho. A legislação como é no Brasil favorece apenas os atores da Justiça do Trabalho, os sindicatos e os conselhos — afirma José Márcio.

Sindicatos de trabalhadores financiados pelo imposto sindical e sem poder de negociação — porque a verdadeira negociação se dá na Justiça do Trabalho, que não garante, ao contrário, reduz os direitos do trabalhador. Legislação sindical que dá incentivos à informalidade, que hoje já engloba 60% da força de trabalho brasileira. Justiça do Trabalho lenta e abarrotada de processos. Representações dos empresários também financiadas com recursos fiscais, o dinheiro do Sistema S. Todas são distorções de um modelo corporativista que já faliu e deveria ser revisto. Mas não é porque quem tem voz são os sindicatos, que representam os trabalhadores mais qualificados, e não o trabalhador típico.

A ligação indissolúvel entre o PT e a CUT aumenta ainda mais essa proximidade entre sindicatos e governo. A eleição de um empresário supostamente do agrado do presidente Lula na Fiesp também aumenta o poder das forças tradicionais de representação de empregados e patrões no país.

Hoje o Brasil está crescendo de forma descentralizada através de empresas médias e pequenas pulverizadas por todo o país; a maioria dos trabalhadores está fora de qualquer sindicato e o crescimento do agronegócio acabou de vez com a idéia de que o mundo agrário era atrasado e o industrial, moderno. A própria fronteira entre agrário e industrial já é mais difusa hoje. O setor de serviços é o que mais cresce, tem a maior parcela do PIB. A Justiça do Trabalho cresceu tanto que hoje suas despesas com pessoal equivalem à metade das despesas com pessoal de todo o Poder Judiciário. Tanto as federações empresariais como os sindicatos de trabalhadores têm hoje um sério problema de representatividade. Os verdadeiros problemas não estiveram em discussão na acirrada disputa da Fiesp. E a verdadeira solução dos problemas do mercado de trabalho não está apenas na queda para 11,2% na taxa de desemprego, como a que foi divulgada ontem.

fonte: O Globo



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