Economia
9.10.2004, com algum atraso
Aí vai uma homenagem do prof. Iorio ao grande polemista, Roberto Campos.
ROBERTO CAMPOS E A RACIONALIDADE
Ubiratan Iorio ( publicado no Jornal do Brasil em 11/10/04)
Contra a insípida monotonia dos papagueadores de palavras de ordem, os argumentos sólidos; em resposta à enfadonha algaravia dos repetidores de chavões esquerdistas, a lógica irrepreensível e, em retruque às surradas falácias marxistas, a pura racionalidade e a profusão de contra-exemplos, orlados e enriquecidos por citações, que não eram trazidas de dicionários, mas da leitura atenta dos próprios originais. Assim era Roberto Campos, uma das maiores inteligências que o Brasil já produziu, fortemente robustecida por uma erudição que impressionou os maiores intelectuais da Europa e dos Estados Unidos, entre os quais não poucos laureados com o Nobel; Campos, que deixou este mundo há exatos três anos, aos 84 anos de uma vida dedicada – por mais que seus adversários tentassem carimbar o oposto – ao país que o viu nascer, em 1917, lá no velho Mato Grosso, no seio de uma família humilde, filho de uma costureira; Campos, economista brilhante, diplomata dedicado, semblante sério em alma de criança, busca inexaurível de saber, conhecimentos à altura de sua avidez em estocá-los e que extravasavam a mera Teoria Econômica, fina ironia e bom humor permanentes. Roberto de Oliveira Campos, o maior dentre todos os nossos economistas e, mais do que isso, um gigante entre nossos humanistas, cansado da falta de racionalidade no debate nacional, foi chamado pelo Criador – cuja doutrina sabia de cor e salteado desde os tempos de seminarista -, às oito e meia daquela noite de 9 de outubro de 2001, deixando apagada a lanterna da popa do navio Brasil.
Respeitado pelos parcos adversários dotados de cultura e inteligência e odiado pela grande maioria dos primevos e rupestres algozes desprovidos desses atributos, embora tidos, lidos e mantidos como membros de nossa intelligentzia, deixou um legado impressionante de serviços prestados ao Brasil, como funcionário do velho - e bom! - Itamarati, economista, professor, embaixador, ministro, político, articulista, ensaísta e escritor. Certa vez, para lermos, na Faculdade de Ciências Econômicas da Uerj, o que era um pálido resumo de seu currículo, para um auditório repleto e que o aplaudiu entusiasticamente de pé ao final da conferência, precisamos de cerca de cinco minutos, ao cabo dos quais comentou, com sincera modéstia, que acabávamos de divulgar o seu “prontuário policial”...
Há homens que nascem e vivem antes de seu tempo e cremos que Campos foi um deles. Se hoje – neste esgar expirante de socialismo, em que o governo federal bajula regimes decrépitos como o de Cuba e em que a polarização política parece convergir para dois partidos de esquerda -, é difícil, mesmo com o apoio da lógica e da clara evidência internacional favorável, defender-se idéias liberais no Brasil, pode-se imaginar o quanto deve ter sido penoso fazê-lo em sua época, especialmente da década de cinqüenta, o apogeu de estatólatras e nacionalóides, até o início dos anos noventa, quando, enfim, as profecias de Marx se realizaram - ao avesso -, com a implosão do império soviético...
Como o país está carecendo da clareza de seus argumentos, da coragem para enfrentar e desmontar tantos mitos e bobagens, que são montados e praticados, falados e escrevinhados, como se fossem verdades bíblicas! Da disposição para fazer o que precisa ser feito, da paciência para ensinar aos mais jovens, da aceitação de saber-se um Precursor, voz solitária no deserto! E, também, da resignação serena, quase apostólica, para ouvir turbilhões de críticas e ofensas desprovidas de qualquer sentido racional, sem desviar-se um centímetro do caminho reto!
Sem dúvida, o Brasil, nestes últimos três anos, está menos racional e mais obscuro.
loading...
-
A Lanterna Na Popa.
Morava
em São Paulo quando li algumas passagens do excelente “A Lanterna na Popa” de
Roberto Campos. Na época, por algum motivo que não recordo agora, não comprei o
exemplar. Em 2004, após a sua morte, o livro saiu em dois volumes, uma...
-
MÁrio Henrique Simonsen.
Formado
em engenharia civil, com especialização em economia, Mário Henrique Simonsen
foi considerado um dos homens mais inteligentes de sua geração. Durante quase
cinqüenta anos, manteve sempre o mesmo ritual: depois do almoço, dedicava 50
minutos...
-
Roberto Campos - 10 Anos.
Lamentável que os dez anos da
morte de ROBERTO CAMPOS, economista e diplomata, conhecido defensor do liberalismo econômico, não estejam devidamente lembrados. É uma pena que o seu
excelente “A lanterna na popa” não esteja nas livrarias....
-
Economistas = SoluÇÃo Para A Crise- Parte 2
De Clóvis Rossi, na Folha de S.Paulo de hoje, eu não poderia deixar de registrar a frase abaixo:Segundo o articulista, a frase é do genial economista Roberto Campos (1917-2001) e diz que "Há três maneiras de o homem conhecer a ruína: a mais rápida...
-
Independência
"Continuamos a ser a colônia, um país não de cidadãos, mas de
súditos, passivamente submetidos às 'autoridades' - a grande diferença,
no fundo, é que antigamente a 'autoridade' era Lisboa. Hoje é Brasília."
Roberto Campos...
Economia