Economia
LUIZ
CARLOS MENDONÇA DE BARROS, na FOLHA DE S. PAULO, alerta para os perigos de “Uma nova
tempestade”. Trata-se da análise de um experiente economista e está prevendo tempos difíceis na mesma linha de Nouriel Roubini.
Uma tempestade vinda de fora atingiu fortemente a economia brasileira nesta
semana. Um pessimismo crescente com a crise política e econômica na Europa
transformou-se em pânico com o aumento do risco de que a Itália também se junte
ao grupo de países perto de uma moratória. Se isso realmente acontecer, uma
catástrofe financeira -e não mais uma crise- vai atingir o mundo nos próximos
meses.
Segundo alguns analistas, os efeitos que se seguirão vão fazer o período
2009/2010 parecer tempos de normalidade e bonança econômica. Nesse novo
cenário, o mundo emergente, que até então vinha sendo considerado pelos
investidores internacionais um refúgio seguro para seus investimentos, seria
afetado de forma importante e entraria também em recessão. Até meados de
agosto, países como Brasil, México, Austrália e muitos outros estavam recebendo
expressivos volumes de recursos para serem investidos em suas economias. Citei
recentemente, como exemplo desse movimento, a compra de parcela importante do
capital da cervejaria Schincariol por um grupo japonês do mesmo ramo.
Dizia que tinha escolhido esse particular investimento como exemplo por três
razões: o valor do investimento (US$ 2 bilhões), o fato de a empresa ter enorme
questão legal com o fisco brasileiro e, principalmente, por ser o investidor
uma tradicional empresa japonesa, considerada pelos especialistas uma das mais
conservadoras do mundo.
Por isso, quando a crise europeia virou tempestade do tipo 5, o mundo róseo dos
emergentes desabou. Os investidores -como sempre acontece nesses momentos
desde que os florentinos inventaram os bancos- tentaram sair correndo ao mesmo
tempo e voltar para o refugio do dólar, ainda a moeda mais confiável que
existe.
Mas a porta de saída do mundo emergente é muito mais estreita do que a do mundo
desenvolvido e esse movimento descontrolado -chamado no linguajar do mercado
de desalavancagem- provocou subitamente uma das mais brutais correções
de preço que já vi em meus 44 anos de mercado financeiro.
O pânico no Brasil foi muito maior do que na maioria dos emergentes,
principalmente no mercado de câmbio, por culpa do governo Dilma. Poucos dias
antes dessa mudança de ares, o ministro da Fazenda tinha criado um imposto na
compra de dólares no mercado futuro da BM&FBovespa. Segundo ele, havia um
movimento especulativo que estava valorizando o real e prejudicando a indústria
brasileira. Contra a maioria das opiniões de especialistas, ele decidiu
levar sua proposta adiante. Ora, no momento de pânico que estamos vivendo,
esse imposto funcionou como uma restrição importante nos negócios com o real,
pois pune os que, sabendo que esse movimento de pânico em algum momento vai
passar, poderiam estar comprando reais e amortecendo sua queda.
A imagem que me vem à mente para descrever o que está ocorrendo é a de um
acidente recente em uma boate no México, quando centenas de pessoas morreram
porque as saídas de emergência estavam fechadas. Nessa situação, todos os que
estavam na boate tiveram de sair por uma única porta de entrada, e o resultado
foi um desastre.
No caso do mercado de câmbio no Brasil, as portas de emergência, para situações
como a que estamos vivendo, estavam fechadas na BM&FBovespa. A tranca
colocada pelo governo -o IOF na compra de dólares futuros- funcionou a contento
se o objetivo do governo era provocar uma correção vigorosa do real. Mas,
como o câmbio é um preço fundamental na dinâmica da inflação brasileira -afeta
50% dos preços ao consumidor-, a correção brusca dos últimos dias ameaça
inviabilizar a política de redução de juros do governo.
Por isso, no momento
em que escrevo esta coluna, equipes de bombeiros do BC estão tentando abrir
buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação brasileira para
mais de 7% ao ano. Como o mercado da BM&FBovespa hoje está do lado dos
especuladores por não haver vendedores, o BC está vendendo mais de US$ 5
bilhões em derivativos cambiais. Uma trapalhada de mais de metro...
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LUIZ
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